Da Prevenção aos Pesticidas Naturais: Caminho Sustentável

solo

Todas as grandes civilizações tiveram por base Bons Solos como principal recurso natural.” Nyle Brady

 

A produtividade das culturas depende de inúmeros factores como o clima, a estrutura do terreno, as características da água de regadio e, também, do modo como se trabalha e nutre a terra. A agricultura intensiva optou por práticas pouco sustentáveis como, por exemplo, o sistema de lavoura profunda ou o uso abusivo de fertilizantes artificiais e pesticidas químicos.

No entanto, sabemos agora que o solo tem de ser gerido de forma adequada de modo a obtermos um terreno rico e saudável dando origem a plantas fortes e resistentes capazes de resistir às pragas, já que prevenir continua a ser o melhor remédio. Adicionalmente, as sementes oriundas destas plantas constituem um bom gérmen para futuras colheitas resistentes.Como exemplos de gestão do solo, chegou-se à conclusão que se deve fazer

uma mobilização mínima do terreno (ex.: alfaias de mobilização vertical ou técnica de sementeira directa) de modo a assegurar um solo estruturado e equilibrado já que o aumento da profundidade da lavoura devido à introdução da tracção mecânica (tractores) teve um impacto negativo no solo contribuindo para um excesso de oxidação da matéria orgânica, perda de fertilidade devido à redução ou eliminação da população de minhocas da camada superficial, perca de biodiversidade, aumento de erosão e arrastamento de elementos tóxicos até à superfície. A era do “passar o tractor pelo terreno para abrir a terra” tem de ser reavaliada e reajustada. Também, o abuso de fertilizantes artificiais intoxica as plantas, altera as propriedades naturais do solo, não tomando em consideração de que a quantidade de nutrientes presentes no solo não é o factor mais importante, mas sim o seu grau de assimilação (que depende por sua vez de diversos factores como o pH, temperatura e CO2). Como tal, recomenda-se: promover boas condições físicas, químicas e biológicas no terreno de modo a aproveitar os nutrientes; o estudo de cada solo e água de regadio de modo a avaliar a quantidade de fertilizante necessária; dar preferência a fertilizantes orgânicos (ricos em húmus) que contribuem para a boa estruturação do solo.

Em relação aos pesticidas, são sobejamente conhecidas as consequências nefastas do uso excessivo de pesticidas químicos na agricultura intensiva, tanto a nível humano (consultar o artigo “O milagre dos pesticidas chama-se Parkinson e está à nossa mesa” ) como a nível ambiental. As consequências incluem a esterilização e desertificação das terras, a redução de biodiversidade, a erosão dos solos, a contaminação dos lençóis freáticos e a consequente contaminação das águas marinhas e os seus habitantes (ex.: moluscos, peixes, aves marinhas) e, também, a intoxicação, mutação hormonal ou morte dos animais que se alimentam de vectores contaminados. Estes factores conduzem indubitavelmente à ruptura do ecossistema natural com consequências tremendas que apenas agora se começam a entender em toda a sua amplitude.

Alguma vez parou para pensar que o produto que está a aplicar nas suas plantas contribui para este problema?
Começamos finalmente a entender que vivemos num sistema (planeta) que está inteiramente ligado entre si através de factores e elementos climáticos (ex.: ventos, oceanos) e da cadeia alimentar. Como tal, não é por acaso que foram descobertos vestígios de DDT nos pinguins da Antártida: porque as partículas de vento os levaram até ali! Ou que o picargo europeu, uma águia marinha de grande porte, esteve à beira da extinção: por consumir peixe contaminado de mercúrio devido aos pesticidas à base deste metal que escorrem das terras para as águas costeiras. Ou que as mulheres esquimós, apesar de viveram em sítios completamente isolados, têm o seu leite materno mais contaminado do que uma mulher ocidental: porque ingerem peixe contaminado como base da sua dieta alimentar.

Também, durante muito tempo, perguntei-me onde teriam viajado as joaninhas da minha infância. Mais tarde apercebi-me que já não existem porque foram mortas pelos pesticidas, assim como os pirilampos e tudo e tudo… os campos são agora estéreis. Não é por acaso que a perca de habitat e o uso de pesticidas são os factores que mais contribuem para a extinção de espécies a nível mundial! Estamos todos interligados e uma acção num ponto do planeta, por mais pequena que seja, pode repercutir-se em grande escala na outra ponta da terra com consequências imprevisíveis. É o conhecido “efeito borboleta” da Teoria do Caos. Assim, chegamos, após inúmeros anos de destruição massiva do ecossistema natural, à (mais que) óbvia conclusão de que os pesticidas devem ser reduzidos a níveis mínimos ou, de preferência, eliminados do nosso sistema.

Dentro deste âmbito há que referir que, curiosamente, em Portugal as nossas câmaras continuam as suas acções contra as “terríveis” e “perigosas” infestantes (ervas daninhas), lançando veneno alegremente por cidades, aldeias e bermas da estrada. Colocam então um papelito numa esquina que avisa “Esta área vai ser tratada” ou “Esta área foi tratada” como, se assim, todos os danos para o ambiente, animais (incluindo a sua mascote que leva a passear) e pessoas (incluindo as crianças que passam e brincam na rua!), deixassem de existir ao colocar aquele aviso. Fantástico! Pergunto-me qual o trabalho do departamento de ambiente das respectivas câmaras que, em vez de impedirem estas acções devido ao seu nefasto impacto ambiental, as deixam passar impunemente pela simples razão de que há que manter e alimentar os contratos estabelecidos entre as câmaras e as empresas dos agrotóxicos?? Com tantos trabalhadores nas câmaras não há quem possa ir apanhar as “perigosas” ervinhas com uma enxada? E já agora: qual o perigo das ervinhas? Qual o benefício / risco destas acções estupidificantes?? Existem neste país câmaras e juntas de freguesia que têm trabalhadores que se dedicam exclusivamente, durante todo o ano, a espalhar VENENO para combater as infestantes!

Haveria que reavaliar urgentemente estas acções que não têm justificação e que comportam graves danos a nível ambiental e de saúde pública.

É do conhecimento geral que existem diversos métodos de agricultura que excluem em diferentes graus o uso de fertilizantes e pesticidas artificiais, proclamando uma agricultura sustentável e duradoura em harmonia com a natureza. Estes modelos incluem a agricultura biológica, a agricultura biodinâmica e a permacultura. Em comum partilham técnicas como a compostagem e o uso de estrume como fertilizantes orgânicos, a rotação e descanso dos campos e o controlo natural das pragas. As investigações confirmam que estes métodos de trabalhar o solo são tão produtivos como a agricultura intensiva, com a vantagem de que os solos são mais férteis e estruturados, há menos gasto de energia e a biodiversidade é mantida, o que favorece a presença de organismos benéficos que ajudam no combate às pragas (Mäder et al, 2002). Os que pensam que estes sistemas não são plausivelmente produtivos alguma vez pararam para pensar que, se as verbas que são investidas na agricultura intensiva e na criação de transgénicos (cujas consequências a longo prazo no ambiente e na saúde são bastante questionados), fossem redireccionadas para os métodos sustentáveis, obteríamos colheitas suficientes para abastecer todo o mercado?

Para além das referidas técnicas de fortalecimento do terreno de modo a aumentar a produtividade e prevenir as pragas (mobilização mínima, fertilizantes orgânicos, rotação de culturas), as agriculturas sustentáveis recorrem também à consociação favorável, ou seja, ao cultivo próximo de duas ou mais espécies de plantas (ex.: dentro de mesmo canteiro) que se complementam e beneficiam entre si. Algumas das vantagens incluem a melhor qualidade das colheitas, maior produtividade, melhor aproveitamento do solo, protecção dos danos climáticos, atracção de insectos benéficos, prevenção de pragas e redução de infestantes. Assim, por exemplo, se plantamos cebolas junto a cenouras estas repelem a mosca da cenoura, o feijão protege a batata do escaravelho, o aipo repele a lagarta da couve (para mais detalhes fazer uma consulta rápida em internet; como sugestão fica o documento “Nabos do Norte”: http://www.esb.ucp.pt/twt/WebDiskOGM/MyFiles/Blogs/consociacoes.pdf ). Por outro lado, para impedir que uma praga se propague torna-se essencial a remoção das partes afectadas da planta; limpar a área de folhas contaminadas e não usar este material contaminado para compostagem; limpar os utensílios e vestuário após o tratamento de uma planta doente. Também, tendo em conta que os fungos são geralmente específicos de cada planta, deve-se plantar o mesmo tipo de planta (ex.: rosas) em diferentes áreas em vez de em conjunto no mesmo local, reduzindo assim o risco da praga afectar todas as plantas de uma vez.

Se, apesar de tomar todas as medidas de prevenção, a praga se instalar, podemos recorrer a pesticidas naturais. Assim, os agricultores conscientes devem procurar produtos seguros para controlar as pestes. Há que ter em conta que, caso o solo não tenha sido tratado com produtos químicos, e caso a praga não se encontre fora de controlo ou não seja especialmente daninha, é provável que os predadores naturais não tardem em chegar para atacar o organismo em questão e não será necessário usar pesticidas. Existem várias receitas efectivas de pesticidas à base de produtos naturais e, também, diversos produtos comerciais bio que reduzem ao máximo os danos para o ambiente e pessoas.

Os pesticidas naturais incluem o alho, o anis, a erva de gato, as malaguetas, o óleo de neem (insecticida, fungicida), o vinagre, o cravinho, o mulching (cobertura do solo com material orgânico como folhas, serragem, palha ou pedaços de madeira, o que reduz as perdas de água, a erosão e as infestações), água de cozer batatas ou arroz, óleo de colza, água quente, extracto de óleo de pinheiro, extracto de beterraba, urtigas fermentadas, cinzas de ervas daninhas, nicotina, pimenta de caiena, piretro (planta de onde se extrai a piretrina, ingrediente de vários insecticidas naturais), extracto de sementes de toranja e os óleos essenciais (ex.: de tomilho, salva, manjericão, eucalipto, citronella, árvore do chá, cravinho). Os óleos essenciais têm a vantagem de possuir propriedades anti-sépticas de amplo espectro (contra bactérias, vírus e fungos), funcionar como insecticidas e herbicidas, e puderem usar-se como preventivos (Hegazi, 2010).

Se bem que naturais, estes pesticidas também devem ser usados com cautela já que o seu uso excessivo pode alterar as características naturais do terreno ou afectar as plantas (para mais detalhes: http://www.ville.sainte-therese.qc.ca/pdf/Liste%20de%20diff%C3%A9rentes%20m%C3%A9thodes%20de%20contr%C3%B4le%20%C3%A9cologique.pdf ).A investigação no sector de pesticidas naturais é hoje uma área em expansão (ex.: http://www.po2n.fr ).

Em resumo, já existe suficiente informação disponível para saber que linhas se devem seguir de modo a criar um terreno estruturado de forma sustentável para o homem e o ambiente (para mais detalhes sobre este tema, consultar Cunha e tal, 2005, Tecnologias Limpas em Agro-Pecuária: http://www2.spi.pt/agroambiente/docs/Manual_IV.pdf ).Recomenda-se assim uma reavaliação das práticas em vigor de trabalhar a terra, privilegiando os sistemas de agricultura sustentáveisque contribuem para a manutenção de ecossistemas equilibrados e que dão prioridade às medidas preventivas, em detrimento dos métodos intensivos que desgastam e esterilizam os terrenos obrigando ao uso excessivo de pesticidas artificiais que têm efeitos pouco duradoiros e comportam um elevado impacto ambiental (Cunha et al, 2005).

Nas palavras de Masanoby Fukuoka “”Observe a natureza atentamente ao invés de trabalhar sem pensar”.

Maktub

Sofia Loureiro

Autora:
Guia de Remédios Naturais para Crianças
Guia de Remédios Naturais para Mulheres
Guía de Remedios Naturales para Niños

FACEBOOK: Guia de Remédios Naturais

BLOG: SoPro Verde

GOODREADS (perfil de autora): Sofia Loureiro

Terapeuta Natural  & Escritora
Lic: Biotecnologia
Doutoramento: Química do Ambiente
Formação em Terapias Naturais

Foto: Spring

Bibliografia recomendada e Referências:

Cunha, M.J., Amaro, R., Oliveira, A., Casau, F. 2005. Tecnologias Limpas em Agro-Pecuária. SPI, Porto. 104pp. http://www2.spi.pt/agroambiente/docs/Manual_IV.pdf

Hegazi, M.A., 2010. Efficacy of Some Essential Oils on Controlling Powdery Mildew on Zinnia (Zinnia Elegans, L.). J. Agricult. Sci. 2(4):63-74

Mäder, P., Fliessbach, A., Dubois, D., Gunst, L., Fried, P., Niggli, U., 2002. Soil Fertility and Biodiversity in Organic Farming. Science 296:1694-1697

Mason, J., 2003. Sustainable agriculture. Eds Landlinks, Australia

Mollison, B., 1988. Permaculture: A Designer´s Manual. Eds Tagari, Australia.

Paull, J., 2011. Biodynamic agriculture: the Journey from Koberwitz to the World, 1924 – 1938. J. Organic Syst. 6(1): 27-41

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